O primordial para entender esse cenário de forma objetiva e prática, é mapear o processo e estudar o fundamento dos objetivos reais da empresa e do planejamento; com as projeções de faturamento e permanência da marca no mercado. Na maioria dos casos não há planejamento nas empresas, o empresário brasileiro planeja menos do que deveria. Então, para entendermos o todo e as partes que o compõe, vamos dividir o tema em duas partes: uma parte no objetivo sobre o faturamento, o investimento e o lucro; e a outra parte sobre a visão de permanência da empresa e da marca no mercado, e as políticas de relacionamento e retenção de cliente.
Entenda que existem diversos pormenores e até outras partes importantes a serem analisadas na empresa. No entanto, vamos manter a atenção nessas duas partes, pois uma delas conduz a empresa ao sucesso e a outra conduz a empresa ao fracasso. Um determinado processo de gestão que tem por objetivo único os lucros, pode até gerar o lucro esperado e depois nada mais o sustentar. Também há o processo com foco na conquista e retenção de cliente; esse processo tem os lucros como forma de resultado. Parece a mesma coisa, mas não é; a ordem dos fatores altera os resultados.
O como isso pode acontecer, é o que veremos a seguir. O empresário com o foco apenas no lucro, muitas vezes não prioriza e até não entende que há a necessidade de investir no relacionamento; essa empresa está voltada para o lucro e tende a reduzir custos e despesas extras com o colaborador e o cliente. Enxuga os investimentos e busca a todo custo o aumento do lucro, mesmo que isso custe a insatisfação do cliente.
Já o exemplo da empresa voltada para o encantamento do cliente e a qualidade total de atendimento, gera resultados não apenas a curto prazo sobre os lucros. Essa empresa consegue atingir os melhores resultados, com a obtenção de maiores lucros não só a curto prazo, mas também a médio e longo prazo. Um cliente encantado envolve os demais consumidores com a empresa, e logo a empresa consegue se expandir de forma natural e sustentável em todas as áreas.
Determinados processos adotados para conquistar o cliente, muitas vezes, têm resultados negativos; podendo ocasionar a perda do cliente e do negócio (o cliente é o dono do negócio). As empresas não deixam de vender, não passam por crises e quedas nos seus faturamentos apenas por culpa do mercado, do governo ou do vendedor. A empresa tem total autonomia sobre os seus processos produtivos (operacionais, estratégicos e táticos), e a responsabilidade sobre os resultados rentáveis e duradouros.
O lucro imediato é o resultado de liquidação, preço baixo e propaganda; ações que em muitos casos não têm sustentação. São ações isoladas do todo que promovem mais o giro financeiro do que o lucro contínuo e sustentável.
O lucro é a soma dos valores conquistados em função da excelência do processo, e não simplesmente o montante financeiro alcançado com as vendas. Espero que tenha ficado claro, mesmo que de forma genérica, os dois pontos de vista e a diferença dos resultados que eles proporcionam.
O ambiente limpo, confortável, com cheiro, clima e som agradáveis proporciona satisfação e até o encantamento do cliente; assim como, o favorece na tomada de decisão de compra. Outro aspecto que também influencia de forma subliminar o consumidor, é a oferta da melhor experiência de consumo; com a cordialidade e o relacionamento.
A política de conquista e retenção de clientes é um dos pontos mais importantes no planejamento estratégico da empresa. O consumidor é o dono do negócio, ele é quem determina se fará ou não negócio com a empresa. Com isso, uma empresa focada nos lucros não representa o dono do negócio.
Hoje, grande parte das empresas entendem a necessidade de encantar o cliente, mas continuam focadas nos lucros, na quantidade de lojas, no volume de vendas, no ganho etc. Com isso, perdem o controle ou não desenvolvem qualquer processo de marketing de relacionamento com o cliente interno que é colaborador, e o cliente externo que é o consumidor.
Um exemplo de produto voltado para o lucro é o celular, que parece ser fabricado para escorregar da mão do consumidor e para ter os seus dias contados. É o que parece! A maioria dos aparelhos não tem qualquer base de atrito para a pegada, e quando bate no chão quebra com facilidade e as peças de reposição têm o preço elevado. O aparelho é escorregadio e “obriga o consumidor” a instalar capa e película. Isso não é uma boa experiência de consumo! Porém, a necessidade da tecnologia supera a fragilidade do aparelho, garantindo a venda; até que um concorrente fabrique algo com foco no longo prazo e no consumidor.
Toda relação comercial precisa ser analisada e adequada à verdadeira necessidade do cliente. O detalhe (como a fragilidade ou a durabilidade do celular) é o que faz a diferença, por exemplo na criação de uma tecnologia avançada e associada ao design funcional e a durabilidade. O exemplo começa na criação de uma megaideia, ao simples ato de servir um café frio ou um café de qualidade na temperatura certa.
E assim acontece também na prestação de serviço, quando a concessionária de automóveis; por exemplo, recebe o cliente com total cordialidade e oferece um ambiente extremamente agradável com o negócio que o cliente busca. Essa é a empresa que tem uma grande vantagem competitiva perante as demais. No entanto, quando a ação de relacionamento não é favorável para o consumidor ou quando a ação é mal trabalhada, ela não surtirá o resultado previsto.
Mais vale uma péssima ação bem trabalhada do que uma boa ação mal trabalhada. São as partes que formam o todo, e se alguma parte estiver errada, o resultado sobre o todo não será satisfatório. Quando o gestor profissional fala de uma ação excelente, ele está falando de algo próximo à perfeição, ao ideal. Ninguém pode ser perfeito! No entanto, os que buscam a perfeição são melhores.
A forma como percebemos o mundo tem implicações práticas em diversas áreas do conhecimento, inclusive no Marketing. Nosso cérebro utiliza a memória das experiências que vivenciamos para reviver momentos. Por isso, quando o consumidor se lembra da experiência ruim, ele não quer repeti-la; e quando o cliente se lembra da boa experiência, ele quer reviver. Seja um detalhe!
Todas as ações precisam estar inseridas num plano estratégico pontual ou em um planejamento tático, e precisam ser revisadas nos seus mínimos detalhes. Ações isoladas não surtem efeitos duradouros. É como uma boa tática promovida por campanha de comunicação e propaganda, sem a sustentação estratégica das ações internas de gestão e marketing, ela gera resultado e para.
Boas ações e excelentes estratégias podem resultar em prejuízo, quando aparecem no processo de gestão de forma isolada ou com objetivos diferentes do contexto ao qual estão inseridas. As políticas de conquista e retenção das empresas precisam acontecer paralelamente às ações comerciais, e favorecerem sempre o dono do negócio que é o cliente.
Mesmo parecendo óbvias tais observações (quanto à importância da ação para promover a melhor experiência de consumo), as empresas continuam perdendo negócios e clientes por não terem o foco na promoção da satisfação total do consumidor. Grande parte das empresas não oferece uma digna experiência de consumo para os seus clientes, por manterem o foco no aumento dos lucros, na necessidade de crescimento e no aumento da produção e das vendas.
Com a busca por melhores lucros a empresa pode baixar qualidade ou aumentar seus preços e perder competitividade a longo prazo. Assim como, o foco exagerado nas metas e objetivos de vendas pode diminuir a qualidade do relacionamento, e com isso deixar de gerar o encantamento do cliente.
Clientes encantados falam de forma espontânea e com motivação sobre a sua experiência de consumo na empresa; falam para três ou mais amigos. Ao contrário, a empresa que oferece uma ruim ou péssima experiência de consumo, perde o cliente e tem a sua marca negativada para até cinco ou mais outros consumidores.
A empresa que atende simplesmente pela obrigação de atender, vende sem qualquer critério ou estratégia de relacionamento e não retém o consumidor; consequentemente estará indicada para a falência ou para permanecer no mercado com baixo resultado nos lucros. Essa empresa quando perde o consumidor, espera pelo próximo; e quando o próximo não aparece, ela acaba.
Promover a melhor experiência de consumo para o cliente é a estratégia de retenção que funciona. Inovar o processo com base nas necessidades reais do consumidor é o ponto focal do processo; seja na qualidade de usabilidade do produto ou na qualidade de atendimento e relacionamento da prestação de serviço para o cliente.
No processo em que o perder é ganhar – e ganhar de forma contínua e sustentável – não pode haver controvérsia entre a forma de agir e a forma de pensar. Não adianta tentar imitar as ferramentas do TPS e basear as ações simplesmente no estado da técnica do Sistema de Produção Lean; esse modelo cria sistemas de produção rígidos e inflexíveis que funcionam bem no curto prazo de tempo (Spear, 2004).
O fundamental para o sucesso são os princípios Lean. O TPS começa a surgir. É considerada uma filosofia de gestão que tem por objetivo otimizar a organização para atender as necessidades do cliente no menor prazo possível, com a melhor qualidade e o mais baixo custo; ao mesmo tempo que pretende aumentar a segurança e o moral dos colaboradores.
Para tal, foram criados vários conceitos e ferramentas de modo a atingir esses objetivos. Objetivos esses que se focam na absoluta eliminação de desperdícios na organização.
Atenção para o objetivo cultural! O seu objetivo é otimizar a organização de forma a atender as necessidades do cliente no menor prazo possível, com a melhor qualidade, o mais baixo custo, e ao mesmo tempo aumentar a segurança e o moral dos colaboradores?
Muitas empresas que têm o desejo de se tornarem empresas Lean, simplesmente tentam imitar as ferramentas do TPS e acabam com sistemas de produção rígidos e inflexíveis que funcionam bem no curto prazo de tempo, mas não resistem ao teste do tempo (Spear, 2004). O problema é que estas empresas se agarram somente às ferramentas e técnicas do Sistema de Produção Lean e não aos seus princípios.
O lucro é a soma dos valores conquistados em função da excelência do processo, e não simplesmente o montante financeiro alcançado com as vendas. Trata-se de uma cultura, muito mais do que um conjunto de técnicas para eficiência e melhoria. Na Toyota as pessoas são a chave do perfeito funcionamento do sistema. Ele estimula, ampara e de fato exige o envolvimento dos funcionários.
Na continuidade do exemplo, o Sistema de Produção Lean é um sistema criado para oferecer ferramentas para as pessoas melhorarem continuamente o seu trabalho. A padronização é o grande sucesso do processo, que contempla quatro regras básicas nas operações: Todo o trabalho deve ser altamente especificado quanto ao conteúdo, sequência, funcionamento e resultado; cada ligação cliente/fornecedor tem de ser direta; o caminho de cada produto ou serviço deve ser simples e direto; e qualquer melhoria deve ser feita de acordo com o método correto.
O trabalho padronizado garante a estabilidade no processo produtivo, garantindo que as operações sejam realizadas sempre numa determinada sequência e da mesma forma, num determinado intervalo de tempo e com um menor nível de desperdícios, conseguindo elevada qualidade e alta produtividade.
O trabalho padronizado deve seguir um planejamento estratégico e um processo de gestão que contemple a qualidade, a segurança, a manutenção e os padrões de trabalho. Para alcançar o sucesso na produção e no atendimento e relacionamento com o consumidor, deve haver o envolvimento de todos; de modo a integrar os princípios dos 5S na rotina do trabalho diário da empresa. Não há como o empresário querer o resultado de um processo enxuto sem a devida valorização dos princípios utilizados. É investir nos princípios, no colaborador, no cliente e no caráter da empresa, para então obter o retorno planejado. Sempre haverá uma justificativa para o fracasso do processo ou da operação. Contudo, a empresa que respeita os princípios adotados e executa esses processos de trabalho de forma padronizada, com visão e foco na necessidade do cliente; gera valor, e não apenas lucro.
Por Paulo Eduardo Dubiel
Executivo em Gestão de Marketing & Negócios, Esp. – www.peds.com.br