A mudança de planos do Facebook gerou a evasão de usuários e danos aos investidores desatentos.

Investidores

 

Por: Paulo Eduardo Dubiel

O investidor atento ao mercado, dificilmente perde por falta de conhecimento; ele pode até perder em função do erro da empresa à qual investiu. O exemplo que trouxemos neste artigo é o do Facebook/Meta, que já perdeu cerca de R$ 1 trilhão em valor de mercado, com tendência a perder ainda mais nos próximos anos. O que mais chamou a nossa atenção, diante de tamanha perda histórica, foi a justificativa dos analistas – a maior queda no mercado financeiro dos últimos anos é “parte do ciclo de existência do produto, por não ter mais espaço para crescer”.

 

Será uma boa justificativa para um grande erro e para a queda tão grosseira das gigantes como o Facebook? O declínio das grandes empresas pode acontecer, mesmo com muito investimento, elas podem ficar obsoletas ou desaparecerem. Tudo depende da decisão tomada e do comportamento adotado no curso de sua existência. Um diagnóstico errado pode arruinar uma gigante como o Facebook – que já foi a principal aliada dos seus bilhões de usuários e hoje os descarta por apostar em um cenário projetado para somente daqui a 10 anos, com um faturamento menor e menos usuários.

 

Sem embasamento ou por alterar sua visão, missão e seus valores no curso de existência, uma grande empresa pode ficar obsoleta ou desaparecer; mesmo faturando, tendo recursos, investimentos e as oportunidades que o mercado oferece. A pergunta mais provável é: seria possível uma empresa sustentar toda sua estrutura construída, crescer e expandir ou mudar os princípios que a ergueu sem base? Eu diria que não! Poderia até afirmar que (em função dos exemplos históricos) com o passar do tempo toda estrutura sem base ou em função do erro desmorona e se transforma em ruína. Vimos isso na história da Babilônia e das gigantes como a Mesbla, Kodak, Yahoo, Xerox, Orkut etc.

 

Hoje, estamos presenciando o início da queda histórica do Facebook que, segundo a publicação da corretora Avenue, registrou a perda de 1 milhão de usuários por dia. Segundo a corretora, “os dados de usuários ativos mensais também vieram ligeiramente abaixo das expectativas, com 2,91 bilhões, quando as projeções apontavam para 2,95 bilhões; o guidance da empresa para os próximos três meses decepcionou, já que as receitas devem ficar entre US$ 27 bilhões e US$ 29 bilhões, ante consenso de US$ 30,3 bilhões”.

 

O Declínio do Facebook

Guilherme Zanin, analista da Avenue, declarou que a queda dos usuários é um indicativo de que a empresa chegou a um patamar tão alto, que torna difícil ter mais para onde crescer. Será que perder cerca de 1 milhão de usuários por dia é algo comum, aceitável e justificável em função da empresa ter atingido seu ápice na maturidade!? É o assunto que passaremos a analisar e comentar.

 

As declarações da Avenue, em nossas análises, contrariam as bases do conhecimento da Administração e do Marketing. Observa-se claramente que falta embasamento na justificativa de Zanin: “Vemos como uma consolidação da empresa dentro do mercado. Mostra que ela atingiu um nível de maturidade elevado. Não tem mais um crescimento de uma startup e, a partir do momento que se atinge esse nível de maturidade, a tendência é ficar estável”; explica o analista. E continua: “A empresa começa a ter dificuldade de reter usuários nas plataformas.”

 

O parecer da Avenue é notoriamente uma justificativa infundada do declínio da empresa Facebook, quando absurdamente compara o Facebook com o “crescimento de uma startup” – condição passada há 18 anos. Outro aspecto que caracteriza uma incompatibilidade nas informações é quando Guilherme Zanin afirma que “a partir do momento que se atinge esse nível de maturidade, a tendência é ficar estável” – isso nunca foi um dado consolidado.

 

O ponto neutro no histórico de existência da empresa não existe – ou a empresa inova na curva de maturidade ou declinará. Os especialistas mundiais em administração e marketing sempre afirmaram, e afirmam, que a tendência após a maturidade, não é “ficar estável”, mas sim o declínio – momento em que a empresa preparada consegue inovar e manter-se na curva da maturidade pelo tempo que sustentar tal posição; depois da maturidade o declínio é inevitável.

 

O Ciclo de Vida do Produto – Introdução, crescimento, maturidade, declínio – é um fato que vem se consolidando ao longo dos anos; não há o que falar em “a partir do momento que se atinge esse nível de maturidade, a tendência é ficar estável”. O Facebook já passou pela maturidade, momento que deveria inovar para manter a posição ou crescer ainda mais – inovando as ferramentas da plataforma e apresentando novos produtos, como foi o caso do Instagram.

 

A produtividade é fator decisivo para a competitividade e o crescimento sustentável do negócio. Mesmo estando bem, sempre será fundamental melhorar. A questão da produtividade não está ligada apenas à lucratividade, mas ao crescimento e à permanência do negócio no mercado. Abordamos em outras matérias, que não existe ponto neutro para uma empresa no cenário mercadológico – se não houver crescimento, haverá declínio.

 

Ao analisar o cenário mundial e os efeitos das ações restritivas, observa-se com clareza que os consumidores estão repudiando as ações restritivas do mercado a ponto de abandonarem as empresas que promovem tais ações. Essa é a causa do declínio, das perdas de usuários e do prejuízo financeiro que o Facebook gerou quando mudou as regras da plataforma com as restrições impostas. Fatos que embasaremos a seguir nos próximos parágrafos.

 

O Diagnóstico Errado

As mudanças de missão, visão e valores podem ser feitas desde que haja coerência com a proposta inicial; ao contrário, tudo que passou a existir em função da condição inicial poderá se perder.

 

O declínio sofrido pelo Facebook em 2021 devido à evasão de bilhões de usuários, alcançou a perda histórica de R$ 1,2 trilhão, com projeção de agravamento do cenário ainda em 2022, é fato característico da tomada de decisão errada – que abre espaço para um risco ainda maior de perder o “império” que foi construído (é como mudar ou substituir os pilares de uma edificação).

 

Tamanho declínio financeiro em função da perda de consumidores é expressivo, e não poderia ser causado pelo declínio natural do ciclo de existência da empresa. O Facebook, ao que tudo indica, tomou decisões políticas que o conduziram ao declínio, assim como a Rede Globo de Televisão e outras organizações que foram rejeitadas pelos consumidores.

 

Decisões erradas com visão de futuro inconsistente, independentemente do tamanho ou do valor da empresa, podem torná-la obsoleta, a ponto de falir. Atitudes erradas não sustentam os bons resultados a longo prazo; assim como, o que parece estar ruim pode ficar pior. O Facebook adotou restrições aos usuários e assumiu uma posição política bem marcante no cenário mercadológico mundial.

 

O Facebook mudou completamente as suas bases, deixando de ser uma plataforma de publicação, tornando-se uma moderadora de conteúdo. Nos EUA, plataformas digitais não podem ser responsabilizadas por conteúdo de terceiros nem por atos próprios de moderação. É o que dispõe a Seção 230 do Communications Decency Act desde a segunda metade da década de 1990. Esse escudo legal abre espaço para que os provedores de aplicações na internet atuem dentro de um cenário de autorregulação, criando, aplicando e atualizando suas próprias regras e princípios. São os chamados termos de uso ou padrões da comunidade.

 

O que começou como uma tentativa de combate à desinformação, entretanto, se transformou em um macroprojeto de regulação de plataformas digitais. Ou seja, o debate sobre regulação de plataformas no Brasil não se iniciou em 2021, mas certamente ganhou novos contornos após os eventos de janeiro nos EUA. É notório que as restrições promovidas no mundo não tiveram o objetivo principal de combater a desinformação (basta fazer uma análise)! Grande parte dos usuários perceberam isso com muita clareza, e se sentiram violados nos seus direitos de expressar a sua opinião e nos seus direitos de privacidade.

 

O Facebook apostou nas restrições (entrou na guerra contra seus próprios aliados) e decidiu promover a informação sobre a pandemia, vacina etc.; assim como, combater rigorosamente as informações das medicações profiláticas e as opiniões contrárias às vacinas, a ponto de invadir a privacidade do usuário, deletar publicações e até bloquear e banir contas de usuários que agiam conforme sempre agiram na plataforma. Os usuários passaram a ser impedidos de expressar as suas opiniões, ou seja, as opiniões contrárias aos novos objetivos do Facebook.

 

A mudança de planos do Facebook não agradou aos usuários, e isso gerou a evasão e prejuízo para os investidores. A criação do Instagram também tirou uma fatia dos usuários do Facebook – eles receberam a novidade como uma modernização do Facebook e optaram por aboli-lo. O resultado é que o Instagram se tornou o principal concorrente do Facebook e logo depois ambas as redes sociais do Grupo Meta perderam seus usuários para o TikTok.

 

Para tentar fazer frente ao crescimento estrondoso do TikTok, a barreira para novos entrantes adotada pela Meta foi copiar e implementar os ‘reels’, ou vídeos curtos da ‘rede vizinha’, no Instagram em julho de 2021 (a Meta tem por hábito copiar recursos de outras plataformas – os stories do Instagram foram copiados do antigo Snapchat). No entanto, a rede social TikTok atingiu 1 bilhão de usuários ativos mensais em setembro de 2021; outra fatia de mercado que a Meta perdeu.

 

Não é difícil entender o motivo do descontentamento dos usuários, após identificarem que o Facebook mudou sua proposta e deixou de oportunizar a todos os usuários a entrega da proposta traçada inicialmente para a rede social. O público estava bem definido e o volume monstruoso de conquista já atingia índices fenomenais; 100% dos usuários do Facebook permaneciam fiéis à marca, a ponto de terem intimidade com a plataforma.

 

Devido à mudança de planos da plataforma, promover a integração social deixou de ser o objetivo do Facebook. A rede mudou suas regras e passou a gerar dissensão social ao apoiar falsas realidades que são descobertas com muita clareza todos os dias; esse foi o ponto controverso que transformou um cenário próspero e crescente em um cenário de prejuízos e declínio.

 

Na visão do consumidor o Facebook, como outras redes sociais, “traiu seus fiéis” ao mudar drasticamente os padrões que já haviam sido acordados; bloqueando parcialmente e até definitivamente seus usuários ao atuar como um moderador de informação. Lógico que o usuário percebeu e ficou frustrado nas suas condições legais de comunicar, anunciar e expressar a sua opinião.

 

Entender os valores e discriminá-los documentalmente são imprescindíveis para demonstrar ao mercado, aos stakeholders e outras partes, de forma sucinta, como a organização se apresenta para a sociedade, no que ela acredita e o que se propõe a entregar a todos, dentro de aspectos éticos e morais, alinhados ao empreendimento.

 

O Facebook foi criado no dia 4 de fevereiro de 2004 por Mark Zuckerberg, Dustin Moskovitz e Chris Hughes, alunos da Universidade de Harvard, para ser uma plataforma – uma ferramenta de rede social que desde o início tem o objetivo de configurar um espaço no qual as pessoas possam encontrar umas às outras, dividindo opiniões e fotografias.

 

A plataforma foi desenvolvida para o usuário publicar seus conteúdos independentemente de ideologia política ou religiosa. Com a mudança drástica de planos o Facebook deixou de ser essa plataforma amigável e assumiu o risco de se tornar um “lacrador”, moderador da informação, determinando o que pode ser entregue ou não. Decisão que pode resultar no declínio completo da empresa e até no declínio das suas marcas agregadas – Instagram e WhatsApp.

 

Nada justifica a queda natural de 26,39% na Nasdaq e a desvalorização que representa a perda de US$ 237,1 bilhões (mais de R$ 1,2 trilhão) em valor de mercado em apenas um dia. Segundo as projeções, espera-se para 2022 uma perda ainda maior em função dos bilhões de usuários que ainda serão perdidos. Tamanha perda pode ser agravada ainda mais pelo crescimento da concorrência que chega para disponibilizar o que o Facebook disponibilizava; é o exemplo da mídia social chamada ‘Truth Social’. Veja a seguir!

 

Falar em queda natural, culpar os investidores ou atribuir a queda por não haver espaço para ampliar o crescimento do produto Facebook é um erro drástico de diagnóstico. O fato é que os consumidores de todo o mundo estão reagindo contra as marcas e as empresas que adotam restrições. O consumidor é quem dita as tendências do mercado, ele manda, é o dono do negócio, é quem paga a fatura!

 

Em Livorno, na Itália, os restaurantes que exigiram o “passaporte covid” tiveram o pior resultado da história; perderam 100% da clientela e assistiram aos seus clientes comendo e bebendo do outro lado da rua, jantando sua própria comida e bebida. No Brasil, grandes marcas recuaram rápido ao identificarem os resultados das suas propagandas restritivas que soaram de forma negativa no mercado.

 

O Facebook declinou e declinará ainda mais em função do relacionamento que adotou com seus usuários, “entregando-os de bandeja” para os concorrentes; o exemplo do novo entrante é a chamada ‘Truth Social’ idealizada por Trump como uma alternativa às redes sociais já existentes, nas quais ele acredita sofrer “censura”.  O grupo de mídia e tecnologia do ex-presidente americano Donald Trump irá lançar o seu novo aplicativo, Truth Social, para o público, no dia 21 de fevereiro, de acordo com a App Store e Apple.

 

A Importância da Análise dos Ambientes

“As empresas bem-sucedidas têm visões do ambiente interno e externo de seus negócios. Elas reconhecem que o ambiente de marketing está constantemente apresentando novas oportunidades e ameaças e compreendem a importância de continuamente monitorar e se adaptar ao ambiente. Embora todo gerente em uma organização precise observar o ambiente externo, os profissionais de marketing têm duas vantagens: dispõem de métodos formais – a inteligência de marketing e a pesquisa de marketing – para coletar informações sobre o ambiente de marketing e dedicam mais tempo aos clientes e à observação de concorrentes.” (KOTLER, 2000).

 

Sun Tzu (2007) propõe as oportunidades e as ameaças das seguintes formas: “Conhece teu inimigo e conhece a ti mesmo, se tiveres cem combates a travar, cem vezes será vitorioso. Se ignoras teu inimigo e conheces a ti mesmo, tuas chances de perder e de ganhar serão idênticas. Se ignoras ao mesmo tempo teu inimigo e a ti mesmo, só contarás teus combates por tuas derrotas”.

 

A boa ideia mal trabalhada não favorece o sucesso da operação. A péssima ideia bem trabalhada pode resultar em alguma coisa. Porém, nenhuma empresa alcança o sucesso com base no “achismo” ou nas especulações, nas boas ideias, nas filosofias sustentáveis etc. As empresas alcançam o sucesso quando têm a boa ideia e fazem dela o problema de pesquisa, para que seja discutida num plano de viabilidade econômica com suas mensurações e projeções de retornos institucional e financeiro.

 

⁠Quem planeja com foco na necessidade do usuário/consumidor e mantém o compromisso firmado, tem mais chance de acertar e permanecer no mercado; era o caso do Facebook, antes de adotar o novo modelo de negócio. Quem não conhece o seu consumidor e não está preparado para ele, erra com mais facilidade! Peter Drucker (1994) afirma que mais importante do que fazer as coisas bem é fazer as coisas certas.

 

O contexto econômico atual se caracteriza pela alta competitividade, pela sofisticação dos consumidores e pela velocidade em que ocorrem as mudanças. A efetividade operacional, baseada na redução dos custos, no aumento da produtividade e na melhoria dos produtos é, atualmente, um imperativo para que as empresas consigam competir, por isso a importância em proceder com um documento formalizado e articulador de resultados.

 

É fundamental abandonar o “achismo”, a razão e os ideais pessoais e políticos para atender a necessidade do consumidor. Manter a proposta inicial e inovar sempre que possível é o melhor caminho. Mudanças radicais são perigosas num momento mercadológico sensível. Escolher um lado é o mesmo que discriminar o outro, e isso não é aconselhável para a empresa que detém o domínio de mercado.

 

O Histórico financeiro e a Reação do Mercado

As decisões e as estratégias erradas podem comprometer, não só o faturamento da empresa, mas também o desempenho, a motivação e a produtividade da equipe que a compõe. É como dar o comando para um batalhão treinado seguir para a armadilha, tendo em vista a informação errada. Não adianta tentar executar ações aleatórias ou adotar uma “receita de bolo” ou colocar em prática fases de um determinado processo que fere as leis e o sistema social.

 

Eu afirmo que o faturamento perdido, sobre as vendas que deixaram de acontecer ou sobre as ações perdidas, nunca mais se recupera; e garanto que o investimento num processo de gestão – avaliação, pesquisa, adequação, planejamento e execução –, é infinitamente mais lucrativo do que ficar tentando realizar algo fantasioso. Tudo que a empresa deixar de ganhar, o seu concorrente ganhará. O ponto neutro não existe, ou a empresa está num processo crescente ou está declinando.

 

A decisão do Grupo Meta de implementar drasticamente no Facebook as restrições, abriu a oportunidade para um nicho de mercado detectado pela TMTG – Grupo de Mídia e Tecnologia de Trump; que revelou o lançamento do aplicativo idealizado para ser uma alternativa às famosas redes sociais como Twitter e Facebook, as quais Trump acredita serem tendenciosas contra os conservadores. A empresa descreveu a plataforma como um lugar “que incentiva uma conversa”…

 

O TRUTH Social será o maior infortúnio da história, não só para a Meta, mas para as redes sociais que “traíram seus usuários” com a mudança radical dos princípios acordados. O aplicativo da nova rede social exclusiva do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deverá ser lançado agora no dia 21 de fevereiro  – data que comemora o Dia do Presidente nos EUA.

 

Meta, dona do Facebook, na quinta-feira (03/02/2022); após a divulgação do balanço do terceiro trimestre de 2021, teve 26,39% de queda nas ações da Nasdaq. A desvalorização representa uma perda de mais de R$ 1,2 trilhão em valor de mercado em apenas um dia, um recorde histórico no mercado financeiro americano. Para efeito de comparação, a holding de Mark Zuckerberg perdeu, sozinha, o equivalente a 27,5% do valor de mercado de todas as empresas brasileiras somadas, segundo dados da Economatica. A derrocada fez a fortuna do fundador da rede social encolher US$ 29 bilhões.

 

A reação dos investidores e usuários pode ser ainda pior para a Meta e demais grupos que estão adotando as restrições. O plano perfeito de domínio mundial não existe, até mesmo pelos resultados já demonstrados; a perda para todos os lados é notória e por isso o plano deixa de ser perfeito. O que começa mal dificilmente terminará bem. As mídias sociais perderão ainda mais usuários, valor de mercado e patrimônio financeiro devido às mudanças de conduta com as restrições impostas.

 

Quando a visão está errada, não adianta tentar inovar. Uma marca queimada no mercado é algo morto e difícil de ressuscitar. Ainda assim, a Meta gastou no metaverso, (uma espécie de ‘mundo virtual’, que é a aposta de Zuckerberg para o futuro da internet) cerca de US$ 10,2 bilhões apenas no ano passado. O guidance da empresa para os próximos três meses decepcionou, já que as receitas sofreram queda de US$ 3,3 bilhões. Mesmo assim, os analistas do Facebook tentam defender o otimismo com base nos resultados futuros ao justificar a queda diária e a perda de bilhões de usuários – “vemos como uma consolidação da empresa dentro do mercado”.

 

Na análise e na visão do especialista Kim é melhor absorver uma perda histórica no capital financeiro e humano, do que investir na retenção desse capital conquistado em uma nova plataforma ou em novas ações favoráveis aos usuários e investidores. Segundo Kim, a expectativa é que o Facebook cresça em média 3% a 4% nos próximos 10 anos, patamar bem diferente dos 13% de crescimento registrados na última década.

 

Novo Produto da Meta – Metaverso

A Meta busca novos negócios e ignora as perdas dos usuários existentes, as perdas financeiras e dos investidores, por apostar num novo cenário mercadológico futuro. É como rejeitar e descartar o alimento bom, por apenas acreditar em um que não existe, mas que poderá ser ainda melhor! O importante é reter o conquistado e evoluir sem limites para crescer e prosperar. É o que passaremos a comentar.

 

O novo produto criado pela Meta, em fase de introdução, reportou prejuízo de mais de US$ 10 bilhões em 2021. Novamente Zanin, da Avenue, enxerga o prejuízo de forma natural ao declarar que num primeiro momento o produto metaverso não dá lucro. No entanto, ele também incrementa sua análise culpando a evasão dos investidores por serem imediatistas; ou seja, o Facebook declina em seus resultados, na visão dos especialistas da Avenue, em função de ter crescido tudo que podia e por culpa também dos investidores imediatistas?!

 

Será que a Meta não tomou nenhuma decisão errada para afugentar os investidores? Será que os analistas que justificaram os prejuízos da Meta, não conseguiram alcançar a visão da realidade do cenário mercadológico conduzido pelo comportamento do consumidor? Ao que tudo indica, o prejuízo da Meta e dos seus investidores é consequência da decisão errada; tendo por base o comportamento do consumidor que rejeita um determinado produto, logo após este produto mudar as suas características iniciais e a sua proposta comercial.

 

Apostar num novo produto é fundamental, quando este cura a dor de forma contínua e é introduzido no mercado com projeções positivas; mesmo que, na fase de introdução não gere lucro. Não gerar lucro é diferente de gerar prejuízo. O prejuízo acontece quando há possibilidade real de lucro e esse lucro não acontece.

 

Um produto com gasto elevado é diferente de outro cujo investimento elevado é embasado na realidade do mercado. Produtos com valores inconsistentes ou duvidosos podem afugentar os investidores conservadores e os imediatistas, já que indica a necessidade de um grande capital para estruturá-lo. É o caso do metaverso, sem previsão de lucro claro da divisão. “O investidor gostaria de ver esse gasto em forma de dividendo ou outro tipo de retorno”, afirma Zanin.

 

Não se pode confundir o olhar de longo prazo, com uma crença ou aposta de negócio futuro sem base. É difícil um especialista de negócios enxergar uma queda de 25% nos papéis como uma oportunidade de tirar um tipo de investidor mais curto-prazista, que queria ver o Facebook subindo 50%. No entanto, Zanin ainda justifica que tal perda é interessante para colocar os investidores que tenham um perfil mais parecido com a nova empresa.

 

Conclusão

O sucesso não acontece em função dos acertos, mas pela ausência dos erros. Não errar é mais lucrativo! Comumente o empresário é obrigado a tomar decisões importantes com base no que ele sabe e acredita, essas decisões aparentemente serão sempre a melhor decisão para ele e para a empresa. No entanto, a decisão mais segura tem sua base nas informações reais extraídas de fatos atuais registrados em pesquisa e avaliação. É importante entender que uma ação errada não tem volta, que o cliente insatisfeito pode abandonar e denegrir a imagem da empresa.

 

As decisões e as estratégias erradas podem comprometer, não só o faturamento da empresa, mas também o desempenho, a motivação e a produtividade da equipe que a compõe; assim como, os usuários e consumidores. Não adianta tentar executar ações sem ética, que ferem as leis e o sistema social; elas são facilmente identificadas e geram prejuízo para o usuário, para o investidor e para a empresa. O faturamento perdido, sobre os negócios que deixaram de acontecer, nunca mais se recupera (como o avião que decola ou o hotel que dorme vazio).

 

Num cenário que envolve trilhões de dólares, investidores e bilhões de usuários é importante medir a extensão do prejuízo, pois tudo que a empresa deixar de ganhar, o seu concorrente ganhará – fato que agrava o dano. O ponto neutro não existe, ou a empresa está num processo crescente ou estará declinando, no caso do Facebook que carrega a marca Meta o declínio é o mais provável; mesmo tentando inovar com o lançamento de num novo produto.

 

O Facebook está incomodando grande parte dos usuários e agradando uma minoria ativa nas redes sociais, gerando uma imagem política negativa. Como então o usuário poderia receber bem outro produto da mesma empresa? Caso isso não seja revisto imediatamente, a Meta poderá pagar um alto preço por não apoiar os seus usuários e ainda tentar lançar um novo produto num momento em que a sua marca declina não por questões financeiras, mas por questões políticas e sociais. Os usuários e investidores que abandonaram e abandonarão a Facebook, agora Meta, não vão dar chance para um novo negócio.

 

Percebe-se claramente que os analistas aparentam estar justificando tamanha perda, quando culpam terceiros pela reação do mercado. O mais coerente seria apresentar uma solução e principalmente tentar frear a perda de usuários e a queda do Facebook. Ao que tudo indica, o diagnóstico e o planejamento que induziu a decisão da Meta de restringir os usuários foram equivocados – o resultado negativo é o declínio e a possível falência da organização, como “uma bola de neve morro abaixo”.

 

Há indícios de que o Facebook não contava com tamanha reação dos usuários após adotar as medidas restritivas. O pior é não retroceder e perder mais usuários a cada dia. A evasão de usuários disponíveis no Facebook não atingiu nem 30% da fatia, devido à ausência de concorrentes, ou seja, de outra mídia social que cure as dores do mercado. Como a Truth Social, uma plataforma de mídia social proposta pelo Trump Media & Technology Group – Grupo de mídia e tecnologia Trump. Um novo entrante que chega com o propósito de ser a força de união pela liberdade de expressão sem discriminação política.

 

A questão não é só o declínio do Facebook, que já é notório, mas sim o declínio da Meta e dos novos produtos lançados. Lançar um novo produto no mercado, por mais promissor que seja, com uma marca queimada por grande parte dos investidores e usuários; parece um outro erro que estão cometendo. Quando o melhor seria “limpar a casa para depois dar a festa”, ou seja, não se consegue erguer uma estrutura sobre colunas destruídas. A questão não é apenas o declínio da marca, a perda de usuários, investidores ou a perda financeira; a questão é que tamanho erro fortalecerá rapidamente os concorrentes. Toda essa perda é o resultado da decisão controversa aos princípios da boa-fé na administração de empresas, a resposta dos usuários e investidores às ações restritivas está clara.

 

Não há por que falar em queda natural. Não há culpa dos investidores. Não há como atribuir a queda financeira e a perda de usuários da Meta, à função da falta de espaço para ampliar o produto Facebook no mercado. Ao que tudo indica a gigante Facebook/Meta está declinando em seu mundo fechado e logo estará obsoleta. A realidade mercadológica, para que os investidores fiquem atentos, é que os consumidores de todo o mundo estão reagindo e abandonando as marcas e os produtos que adotam restrições. Outras marcas, como a Truth Social, já sabem disso e estão preparadas para acolher os usuários insatisfeitos. Portanto, não há como desprezar o usuário ou o consumidor, pois é ele quem dita as tendências do mercado, ele manda, é o dono do negócio, é quem paga a fatura!

 

Paulo Eduardo Dubiel – Publicitário e Jornalista Profissional, graduado em Gestão de Marketing, com MBA em Gestão de Negócios, pós-graduado em Gestão da Inteligência Emocional e Gestão Pública de ODM – Objetivos do Desenvolvimento do Milênio.